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segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Pintou o preto

A pinta preta ocorre em praticamente todas as regiões onde o tomateiro e a batateira são cultivados.

O tomateiro (Lycopersicon esculentum Mill.) e a batateira (Solanum tuberosum L.) são as duas olerícolas cultivadas de maior importância no Brasil, tanto em termos de área plantada como de produção. As duas espécies têm origem nos países andinos. O tomateiro é, provavelmente, originário de uma faixa estreita, compreendendo áreas de baixas altitudes, que vai do norte do Chile ao Equador (Giordano e Ribeiro, 2000; Jones et al., 1991). A batateira tem origem numa área mais ampla, concentrando o maior número de espécies entre o Peru e Bolívia, localizadas preferencialmente em regiões de altas altitudes (próximas ou acima de 2000m) (Brown, 1993). Além da origem, as duas espécies pertencem à mesma família botânica e compartilham outras características comuns. Nestas culturas, os custos de produção são elevados em razão de demandarem grande quantidade de insumos durante todo o ciclo de cultivo e ambas são, em geral, suscetíveis a muitas doenças, sendo algumas comuns às duas culturas.



Várias doenças incidem nas culturas do tomateiro e da batateira, comprometendo a produção, acarretando em aumento dos custos e dos riscos associados ao uso intenso de fungicidas. Dentre as doenças, destaca-se a pinta-preta, causada pelo fungo Alternaria solani Sorauer. A pinta-preta causa perdas na produção pela destruição de área foliar, resultando em queima dos frutos de tomate pelos raios solares, redução em número e tamanho de frutos de tomate e tubérculos de batata, além de causar apodrecimento desses órgãos.



A pinta-preta ocorre em praticamente todas as regiões onde tomateiro e batateira são cultivados. É uma doença muito importante, principalmente em condições de temperatura e umidade elevadas, quando sua intensidade é maior. Se medidas de controle não forem adotadas corretamente, constata-se grande redução na produção tanto de tomate quanto de batata.



Sintomas da pinta-preta



Toda parte aérea pode ser afetada, em qualquer estádio de desenvolvimento da planta. As infecções iniciam-se geralmente pelas folhas mais velhas, aquelas localizadas no terço inferior das plantas. Nas folhas, ocorrem lesões de coloração pardo-escuras, geralmente circundadas por uma faixa estreita (cerca de 3mm) de cor amarela. O halo clorótico e anéis concêntricos são formados com o aumento das manchas. Quando o ataque é muito severo, ocorre seca da folhagem, devido ao alto número de lesões e à coalescência das mesmas. No caule, as lesões são alongadas e circulares com anéis concêntricos evidentes.



Em frutos de tomate, são observadas lesões deprimidas e escuras, geralmente de aspecto aveludado. Normalmente, os frutos atacados caem ao solo. Sintomas em tubérculos são raramente observados no Brasil. Quando ocorrem, estes caracterizam-se por lesões escuras, deprimidas, circulares a irregulares, rodeadas por bordas elevadas de coloração purpúra à bronzeada. Na Embrapa Hortaliças, tubérculos com sintomas semelhantes a estes têm sido analisados mas, nos isolamentos, o principal organismo associado tem sido outra espécie, A. alternata.



Quando o inóculo já está presente na semente / batata-semente ou no solo, pode ocorrer podridão de colo de plântulas e/ou de mudas de tomate, podendo matá-las e, caso a planta sobreviva, há uma redução de seu crescimento e produção. Esta fase da doença pode fornecer inóculo para ciclos secundários na parte aérea da cultura.



Epidemiologia da doença



As condições favoráveis ao desenvolvimento da doença são alta umidade e temperatura entre 25 e 30oC. Geralmente, essas condições são verificadas durante o período de verão na maioria das regiões produtoras. Isto não impede que, em invernos brandos, principalmente nas regiões menos frias, a doença possa ocorrer e até causar problemas. Certas características do organismo fazem com que as epidemias sejam severas e o controle dificultado. Os esporos do fungo são facilmente dispersos pelo vento, pelas sementes e pelos respingos de chuva e de água de irrigação. Essas estruturas podem permanecer viáveis por longo período de tempo. O fungo sobrevive em restos de culturas, no solo, em sementes botânicas, em tubérculos-sementes, e também em outras plantas hospedeiras. Além do tomateiro e batateira, A. solani afeta outras plantas da família Solanaceae como pimentão, berinjela e o jiló. Também há relatos na literatura de infecção de A. solani em algumas espécies de Brassica. Estas outras hospedeiras podem fornecer inóculo para culturas de tomate e batata, sendo importantes como fonte de inóculo inicial.



Em geral, a pinta-preta é menos severa nos estádios iniciais de desenvolvimento das plantas.



Controle da doença



O controle da pinta-preta em batateira e tomateiro tem sido baseado na aplicação de fungicidas. Vários deles estão registrados no Brasil para controle da doença (Tabela 1 - Veja como visualizar este artigo, com figuras e tabelas, em PDF, no link no final da página). Estes fungicidas devem ser utilizados nas dosagens recomendadas pelo fabricante e respeitando-se os intervalos de carência e outras recomendações constantes na bula do produto. Além disso, o uso de controle químico deve ser feito de maneira racional, caso contrário poderá trazer problemas de cunho econômico, ecológico e social.



Medidas de controle cultural como tratamento de sementes, rotação de culturas, manejo adequado de irrigação, espaçamento adequado e/ou sistema de condução da cultura, adubação e a eliminação de lavouras antigas e dos restos culturais podem ser utilizadas com o objetivo de controlar a pinta-preta, mas estas práticas são difíceis de serem adotadas em cultivos intensivos e, por si só, não são muito eficientes. A manutenção do bom estado nutricional das plantas colabora para uma maior resistência à infecção. No caso de cultivos de tomate em estufa, algumas medidas de controle por métodos físicos são eficientes em reduzir a intensidade da pinta-preta. O uso de filmes plásticos, capazes de absorverem determinados comprimentos de ondas, essenciais à esporulação de A. solani, pode reduzir a severidade da doença.



Resistência recomendada



O controle da doença por meio da resistência é a medida mais recomendável e com maiores possibilidades de reduzir o uso de fungicidas nas duas culturas. A integração de variedades resistentes e controle químico é viável e já foi demonstrada ser capaz de reduzir o número de aplicações de fungicidas, principalmente na cultura da batata.



Na espécie Solanum tuberosum, fontes de resistência à doença são muito raras, mas há possibilidade de encontrá-las entre as espécies selvagens. Entretanto, a resistência encontrada é do tipo quantitativa (horizontal) e a mesma está associada a características de maturidade tardia (ciclo longo). A Embrapa Hortaliças vem pesquisando clones de batata quanto à resistência à doença. Estes clones foram obtidos a partir de cruzamentos realizados no Centro Internacional da Batata (CIP) e na Embrapa Hortaliças. Até o presente, foram selecionados mais de 100 clones com resistência de campo ao fungo. Estes clones estão sendo testados para resistência a vírus e outros patógenos e para ciclo vegetativo curto e qualidade comercial dos tubérculos.



Entre as cultivares de batata comercialmente conhecidas, as mais resistentes são: Aracy, Catucha e Eliza. As cultivares Asterix e Baraka são moderadamente resistentes; enquanto as variedades Achat, Bintje e Monalisa são muito suscetíveis.



Entre as cultivares comerciais de tomate, observa-se certa diferença na resistência a campo, mas nenhuma apresenta altos níveis. Existem várias fontes de resistência dentre as espécies do gênero Lycopersicon, porém muitas não possuem características agronômicas desejáveis e/ou os caracteres são de difícil transferência para materiais de interesse. Recentemente, alguns genótipos foram testados quanto à resistência a A. solani, e dentre estes destacaram-se os genótipos CNPH423, CNPH650, e CNPH956. Porém, esses genótipos precisam ser avaliados em condições de alta pressão de inóculo, em campo. Em outro trabalho, realizado na Embrapa Hortaliças, foram identificadas boas fontes de resistência à doença como os acessos CNPH-081, CNPH-423, CNPH-650 e CNPH-956, entretanto, a resistência é do tipo quantitativa (horizontal), sendo difícil de ser transferida para cultivares comerciais.



A resistência do tomateiro e da batateira a A. solani está associada às características de maturidade, frutificação e tuberização. Em geral, genótipos resistentes são de maturação tardia e maior intensidade da doença é observada a partir da frutificação do tomateiro e formação de tubérculos na batata. O controle genético da resistência ainda necessita ser melhor elucidado.



Eduardo S. G. Mizubuti,
Universidade Federal de Viçosa
Ailton Reis e Sieglinde Brune,
Embrapa / CNPH, Brasília



* Este artigo foi publicado na edição número 16 da revista Cultivar Hortaliças e Frutas, de outubro/novembro de 2002.

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