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segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Disseminador de doenças

Mais de 15 culturas, entre elas tomate, batata e citros, são atacadas por oomicetos (microorganismos pertencentes ao reino Stramenopila). Para que o controle seja eficaz é necessário usar o fungicida certo em cada etapa da doença.

Muitas são as doenças de plantas causadas por organismos do grupo dos oomicetos (oomycetes). Os oomicetos, no passado, eram classificados como fungos. As doenças causadas recebem os nomes comuns de míldios, ferrugens brancas, podridão de sementes e podridões radiculares causando danos em várias culturas.

Classificação sistemática dos Oomicetos

Este grupo de microrganismos pertencia ao reino dos fungos, no entanto, mais recentemente foi classificado no reino Stramenopila. Fazem parte deste novo reino as antigas classes de fungos Hyphochytridiomycetes, Labyrinthulomycetes e Oomycetes.

Doenças causadas por Oomicetos

As principais espécies vegetais atacadas por oomicetos, os nomes comuns das doenças e o nome científico dos agentes causais envolvidos são apresentados na Tabela 1 (veja no final do texto como visualizar este artigo, com fotos e tabelas, em PDF).

Em geral, as doenças foliares causadas por oomicetos apresentam o nome comum de míldio (do inglês mildew, mofo ou bolor). Isso porque os sinais da doença desenvolvem-se principalmente na face inferior das folhas constituídos pelo conjunto de conidióforos (esporangióforos) que emergem através dos estômatos. Devido a presença dessa massa algodonosa recebem o nome comum de míldios.

Por outro lado, o nome de ferrugem branca deve-se ao fato dos sinais serem semelhantes aos de “ferrugem”, porém de coloração branca.

Controle químico dos oomicetos

Embora fungicida seja conceituado como sendo uma substância química que mata fungos, hoje deve-se levar em conta que como os oomicetos não são mais classificados como fungos, ainda não se tem uma designação própria para as substâncias químicas utilizadas em seu controle. Logicamente que deveriam ser chamadas popularmente de “oomiceticidas” (que mata oomicetos). Embora ainda não se tenha uma definição clara quanto ao uso desssa terminologia própria, no presente texto será utilizada, ainda, a palavra fungicida, como aquela substância que é tóxica, inclusive aos oomicetos.

Podridão de sementes e morte de plântulas

Em algumas culturas os maiores danos causados por oomicetos estão relacionados com a redução da população de plantas, podridão de sementes, morte de plântulas e podridões radiculares. Nesses casos uma das medidas de controle recomendadas é o tratamento de sementes com fungicidas (oomiceticidas) eficientes para o controle de Pythium spp. como o captam e o metalaxil. Esses compostos têm sido utilizados no tratamento de sementes de milho e de soja para protegerem-nas do ataque de Pythium presente no solo.

Míldios e ferrugens brancas

Embora sejam importantes todas as doenças causadas pelos oomicetos, merece destaque pelo dano e perda que causam, os míldios. O controle dessas doenças é eficientemente obtido pelo uso de fungicidas.

Dentre eles os mais utilizados são fungicidas (“mildiocidas”) do grupo dos cúpricos [à base de oxicloreto de cobre, hidróxido de cobre, óxido curproso e sulfato básico de cobre (caldas bordalesa e Viçosa)].

Também podem ser controlados pelos fungicidas clorotalonil e mancozebe. Destes, os à base de clorotalonil são mais eficientes.

No entanto, um grupo específico de fungicidas, altamente específicos ao míldios, tem sido utilizado como a arma mais potente visando ao seu controle. Deve ressaltar que esse grupo de fungicidas não controla doenças causadas por fungos verdadeiros. Neste grupo merecem destaque os fungicidas cimoxanil, benalaxil, dimetomorfo, fenamidona, metalaxil, propamocarbe e zoxamida. Devido a especificidade este grupo, em geral, é empregado em misturas pré-fabricadas ou misturas de tanque para evitar o desenvolvimento de raças resistentes e mesmo para ampliar o seu espectro de ação. Os fungicidas protetores mais frequentemente misturados são clorotalonil, manebe e mancozebe.

Em todos esses casos os fungicidas são aplicados em órgãos aéreos para prevenir a infecção ou matar o parasita recentemente estabelecido.

Podridão radicular de plantas cítricas

No caso de podridões radiculares de plantas cítricas, causadas por Phytophthora spp. o controle tem sido obtido pela pulverização foliar do fungicida fosetil alumínio. O produto é absorvido pelas folhas e translocado via floema para o sistema radicular da planta controlando o fungo infectando o sistema radicular. Trata-se, nesse caso, de um exemplo único em fitopatologia da translocação de um fungicida via floema, isto é, aplicado na folhas controlando um parasita no sistema radicular. Discute-se que o produto não tem ação fungicida “in vitro” mas sim “in vivo” e que esse fato pode estar relacionado com o seu envolvimento na ativação dos mecanismos de defesa da planta.

Critérios indicadores do momento para a aplicação de fungicidas visando ao controle dos míldios e ferrugens brancas:

Quando se aplica fungicida numa cultura tem-se como objetivo o controle de uma doença causada por fungo e no presente caso por oomicetos. Admite-se que a doença causa dano e perda e que a aplicação do fungicida vai garantir um retorno econômico do investimento.

O que se deve saber em relação ao momento de quando aplicar fungicida no controle de oomicetos em órgãos aéreos?

Discutem-se aqui os critérios disponíveis para a tomada de decisão técnica considerando: o preço do produto (órgão vegetal colhido e comercializado), o custo do controle, o retorno econômico e, enfim, a sustentabilidade econômica e ecológica da atividade agrícola.

Critério preventivo (protetor)

Por conceito, controle preventivo ou protetor é aquele no qual se aplica o fungicida antes da deposição do inóculo nos sítios de infecção. Ainda não ocorreu infecção e por isso a quantidade de doença é zero em folíolos, folhas, plantas e na lavoura. O controle preventivo ou protetor ocorre quando se aplica o fungicida antes da infecção. Infecção compreende as subfases de deposição dos esporos, germinação, penetração e estabelecimento do parasitismo. É provável que em algumas situações a aplicação tenha que ser feita nos estádios fenológicos vegetativos do cultivo e por isso requeira várias aplicações.

Sem o monitoramento sistemático não se sabe quanto de doença tem na lavoura no momento da aplicação havendo o risco de que sua intensidade possa ter ultrapassado o limiar de ação (LA).

Critério curativo

Consiste na aplicação do fungicida quando já ocorre a infecção sem a presença ainda de sintomas. Ocorrendo a aplicação os fungicidas matam o oomiceto no interior dos tecidos, e este deixa de se desenvolver. Houve a infecção, porém os sintomas não são visíveis.

Sem o monitoramento sistemático não se sabe a quantidade de doença no momento da aplicação, havendo um risco de já ter sido ultrapassado o LA.

Critério erradicante

É quando se procede a aplicação do fungicida e já ocorrem lesões detectáveis. Alguns fungicidas matam o fungo mesmo nesta fase, quando deixa de esporular.

Ao se aplicar um fungicida se deveria saber quanto de doença ocorre naquele momento na lavoura, pois pode haver o risco de ter ultrapassado o LA.

Critério baseado em estádio fenológico

Outra possibilidade consiste na aplicação de fungicidas visando ao controle da doença-alvo num estádio fenológico. Por conceito, não se leva em conta a quantidade de doença e por isso pode ser preventivo (protetor), curativo ou erradicante. O preventivo é zero doença, o curativo é pós-infecção antes dos sintomas e o erradicante pós-sintoma, por conceito.

Neste caso, não se considera a presença ou a ausência da doença, sua intensidade nem o custo do controle e o retorno econômico.

Em qualquer situação, quando se aplica um fungicida numa lavoura se deveria saber quanto de doença ocorre no momento do controle. Portanto, sem o monitoramento sistemático não se tem noção da intensidade da ferrugem.

Critério baseado no início da doença

Início da doença é um termo indefinido ou subjetivo. Qualquer intensidade pode ser o início. O início da quantidade ou da intensidade da doença deve ter um valor, um número, e isso é possível através do método científico.

Fitopatometria é o processo de quantificação de doenças e quantidade de doença é sinônimo de intensidade de doença. A intensidade pode ser quantificada ou expressa em números, através dos critérios de incidência, severidade e número de lesões por folíolo ou unidade de área. O método mais sensível de fitopatometria é a incidência em indivíduos, depois em folhas e por último em folíolos.

A intensidade pode ser expressa como severidade, que é a proporção da área foliolar coberta com lesões ou ainda como número de lesões por folíolo ou por cm2.

Por exemplo o limiar de ação (LA) é o início da doença, porém é expresso em um valor numérico.

Critério baseado na quantidade de chuva

Outro aspecto que pode ser considerado é a quantidade de precipitação pluvial e a remoção do resíduo dos fungicidas protetores ou residuais. Por exemplo, uma chuva de mais de 13 mm remove o depósito dos fungicidas protetores ou residuais da superfície do tomateiro. Portanto, após ocorrer esse evento nessa intensidade deve-se reiniciar os tratamentos.

Critério baseado em sistemas de previsão

Também se pode tomar como critério indicador do momento para o início e intervalo das vistorias de lavoura os sistemas de aviso de doenças. Esses sistemas têm aplicação prática principalmente em olericultura e fruticultura.

Os sistemas de previsão de doenças são fundamentados na presença, no tempo e no espaço dos três fatores determinantes de doenças: hospedeiro, patógeno e ambiente favorável. Poucos modelos de previsão baseiam-se no monitoramento do inóculo relacionando-o com o início do desenvolvimento da doença por serem muito laboriosos. A maioria dos sistemas disponíveis tem como base os requerimentos climáticos para a multiplicação do inóculo e para a infecção.

O modelo climático de previsão fundamenta-se no efeito do ambiente sobre o processo infeccioso. Uma vez os esporos estando depositados nos sítios de infecção respondem a estímulos que são sinais do ambiente. Os principais estímulos são o a presença da água líquida e a temperatura. A resposta dos esporos ao molhamento é obrigatória e irreversível reagindo ao estímulo através da germinação. O modelo climático prevê a infecção (germinação, crescimento do tubo germinativo, penetração do hospedeiro e estabelecimento do parasitismo). Uma infecção é bem sucedida quando o molhamento for de duração suficiente, a uma temperatura média, para dar início à colonização do hospedeiro. Essa interação é denominada de período crítico (PC). Portanto, após ocorrer um PC, pode secar a superfície foliar que o patógeno dará continuidade ao seu ciclo de vida.

A maioria dos sistemas de previsão fundamentados no modelo climático valem-se do PC para prever a infecção. Como numa população os esporos dos fungos não respondem sincronicamente em germinação à duração do molhamento e à temperatura, tem-se diferentes proporções de infecção e conseqüentemente de intensidade da doença, em função de sua resposta àqueles fatores ambientais. Cada indivíduo tem um requerimento de duração do molhamento e de temperatura para completar com sucesso a infecção.

Por outro lado, diferentes intensidades de doença podem ser obtidas utilizando-se diferentes concentrações de inóculo, ou diferentes temperaturas e/ou durações do molhamento foliar. A interação da duração do molhamento foliar com a temperatura média nesse período é a pedra fundamental dos sistemas de previsão de doenças baseado no efeito do clima sobre o processo infeccioso denominado de modelo climático fundamental ou indutivo, que prevê a infecção.

Os efeitos das interações entre temperatura e duração do molhamento sobre a infecção, obtidos em condições controladas, podem apresentar distorções no campo. Nesse caso, os fatores que comprometem a eficiência da infecção de modo a não refletir exatamente o que ocorreu sob condições controladas são: (a) variações na flutuação da temperatura no dossel, (b) pequenas interrupções na duração do molhamento, (c) diferente disponibilidade de inóculo (densidade), (d) viabilidade dos esporos (% de germinação), (e) predisposição do hospedeiro (idade das folhas), (e) presença de nutrientes e de pesticidas no filoplano, e (f) atividade biológica antagônica dos organismos residentes no filoplano. Por isso, a freqüência absoluta de infecção não pode ser predita.

A severidade futura é função da eficiência da infecção dos esporos que por sua vez é governada pelos PCs.

Os PCs são diferentes para cada patossistema, por isso as tabelas de PCs são também diferentes para cada espécie de fungo em um dado hospedeiro.

Sistemas de previsão estão disponíveis para o controle de míldios em batateira, tomateiro, cebola e videira (www.quanta-agro.com).

Erlei Melo Reis,
UPF

* Este artigo foi publicado na edição número 29 da revista Cultivar Hortaliças e Frutas, de dezembro/2004 - janeiro/2005.

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