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segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Vetores de vírus

Para controlar os tripes, é necessário conhecê-los e entender como eles transmitem determinados tipos de vírus.

Tripes são insetos minúsculos que causam sérios danos na agricultura como pragas de diversas culturas. Ao mesmo tempo, eles têm grande importância como vetores de vírus, principalmente dos tospovírus (o grupo do vira-cabeça do tomateiro). Este artigo apresenta (1) como é o inseto; (2) descrição das principais espécies do Brasil; (3) como os vírus são transmitidos pelos tripes; e (4) o que são os tospovírus.



Como é o inseto tripes



Tripes é o nome comum dado para as espécies de insetos pertencentes à ordem Thysanoptera, constituída por mais de 5000 espécies. Devido ao tamanho diminuto do seu corpo (0,5 a 10 mm), eles são difíceis de serem vistos e, quando encontrados, sua identificação é complicada. Esta ordem é dividida em duas sub-ordens: Tubulifera e Terebrantia. A sub-ordem Terebrantia é composta de sete famílias, das quais a Thripidae é a maior delas, com mais de 1700 espécies. As espécies de tripes que transmitem os tospovírus são todas classificadas na sub-família Thripinae, a mais diversa entre as subfamílias de Thripidae. A maioria dos tripes são saprofíticos, sendo somente algumas centenas relatadas como pragas de plantas cultivadas. Todas as espécies de tripes vetores de tospovírus são relatadas como pragas importantes da agricultura. Até o momento, oito espécies de apenas dois gêneros, o Frankliniella (5 espécies) e o Thrips (3 espécies), foram relatadas como transmissoras de tospovírus.



O modo de alimentação dos tripes é do tipo raspador-sugador. O aparato de alimentação é especial, consistindo de uma mandíbula e duas maxilas, formando um estilete alongado. Larvas e adultos usam a mesma técnica de furar e sugar para a sua alimentação. A mandíbula abre um buraco através do qual os estiletes mandibulares penetram na célula. O processo de alimentação dos tripes resulta em uma série de sintomas: prateamento (resultado da entrada de ar nas células vazias), pequenos ferimentos no tecido afetado e desenvolvimento de tecido endurecido em alguns frutos. Uma alta infestação de tripes pode causar deformação total das plantas, freqüentemente resultando em perda total da cultura.



Os tripes ovipositam em tecido jovem de folhas, caule, flores e frutos. O ciclo de vida dos insetos da sub-família Thripinae é composto de ovo, duas fases larvais, duas fases de pupa e o adulto. O ciclo de vida em F. occidentalis e T. tabaci é completado de ovo a adulto em 12 a 15 dias, a uma temperatura de 25 °C. Os tripes adultos podem sobreviver mais de um mês e produzir de 100 a 200 ovos durante este período.

Descrição das principais espécies



Aqui são apresentadas algumas características das principais espécies de tripes relatadas como vetores de tospovírus. A identificação dos tripes em nível de espécie é bastante complicada, geralmente é baseada em caracteres morfológicos como número e posicionamento de setas. Para a correta classificação dos insetos faz-se necessário a montagem dos adultos em lâminas e observações em microscópio. Deve-se ressaltar que a coloração do inseto não é um parâmetro confiável de classificação, pois é altamente influenciada pela planta hospedeira e condições ambientais.



Frankliniella occidentalis
Conhecido como tripes das flores, as fêmeas adultas de F. occidentalis medem aproximadamente 1,4mm de comprimento, enquanto os machos são menores, com 1,0 a 1,2mm. Ambos apresentam a coloração marrom clara. As setas principais pós-ocelares são tão longas quanto as setas inter-ocelares e o pente dos microtrichios da margem posterior do tergite abdominal VII é incompleto. Esta espécie foi relatada pela primeira vez no Brasil em São Paulo, em 1995. Um levantamento realizado em plantas cultivadas mostrou que esta espécie é atualmente muito comum no Distrito Federal.



Frankliniella schultzei
Conhecido como tripes do tomateiro, as fêmeas têm 1,4mm em comprimento e cor marrom escura a preta. Os machos são mais claros e menores (1.0 a 1,2mm). Uma característica distinta desta espécie é que as setas ocelares III estão próximas umas das outras entre os ocelos. Esta espécie foi relatada como principal em tomate no Estado de São Paulo e a mais comum encontrada em algodão no Brasil. Entretanto, cuidado especial tem que ser tomado ao analisar os dados relatados, pois esta espécie é, muitas vezes, erroneamente identificada como Thrips tabaci.



Thrips palmi
Também conhecido como tripes das hortaliças, as fêmeas medem cerca de 1,0 a 1,2mm em comprimento e os machos cerca de 0,8mm. A cor do adulto varia de marrom claro a amarelo. A primeira nervura da asa dianteira do adulto tem três setas distais e o tergite abdominal II tem quatro setas laterais. Esta espécie causou perda total em 20ha de pimentão no Estado de Goiás. Prejuízos severos têm sido relatados em melão e pepino cultivados em casa-de-vegetação. Esta espécie foi primeiramente relatada em São Paulo em 1995, mas já se encontra bem estabelecida no Brasil Central.



Thrips tabaci
Conhecida como tripes da cebola, as fêmeas medem de 1,2 a 1,3mm e apresentam coloração marrom clara. No Brasil, é raro encontrar populações que contenham machos nesta espécie. A primeira nervura das asas dianteiras do adulto tem quatro setas distais e o tergite abdominal II tem três setas laterais. Esta espécie é a praga mais importante em cebola no Brasil.



Como os vírus são transmitidos pelo tripes?



A maior parte dos vírus que infectam plantas depende de insetos vetores para a sua disseminação. Os insetos mais comuns envolvidos na transmissão de vírus são os afídeos, cigarrinhas, besouros, moscas-brancas e tripes. Os tripes são os menores insetos deste grupo de insetos vetores. Por este motivo, o seu estudo é dificultado. Apesar de não possuir asas destinadas a vôos longos, o seu comportamento e agilidade permitem a sua sobrevivência e ampla disseminação em todo o mundo. É comum os tripes esconderem-se entre a bainha da folha e o caule, ficando protegidos de predadores e do contato com inseticidas. Os tospovírus são os principais vírus transmitidos pelos tripes de modo persistente, propagativo-circulativo.



Os vírus propagativos-circulativos não só circulam no vetor, mas também multiplicam antes de serem transmitidos. Devido à propriedade de se multiplicarem no inseto, eles podem ser considerados como vírus de insetos. T. tabaci foi o primeiro vetor de tospovírus Tomato spotted wilt virus identificado, seguido alguns anos após por espécies do gênero Frankliniella. Até o momento, oito espécies de tripes foram identificadas como vetores de tospovírus (F. occidentalis, F. schultzei, F. fusca, F. intonsa, F. bispinosa, T. tabaci, T. palmi, T. setosus). Uma particularidade interessante neste tipo de transmissão é que somente as larvas, e não os adultos, podem adquirir o vírus, isto é, os tripes da fase larval precisam se alimentar de plantas infectadas para se tornarem transmissores do vírus. A habilidade para a aquisição de tospovírus decresce com a idade das larvas, quanto mais nova a larva, maior a chance de ela se tornar um adulto transmissor. Os vírus podem ser transmitidos pelos tripes na fase final da segunda larva ou por adultos. O período médio de latência, que representa o período necessário para o inseto iniciar a transmissão do vírus, é de 84h a 171h, dependendo da temperatura. O tempo de alimentação necessário para a aquisição ou inoculação do vírus é de aproximadamente 1h. Estes parâmetros mostram que os tospovírus são transmitidos em um tempo relativamente curto quando os tripes são virulíferos, ou seja, carregam o vírus e podem transmiti-los. Uma vez que o tripes torna-se transmissor de vírus, ele tem a capacidade de transmitir indefinidamente.



Estudos recentes mostram que existe especificidade do vetor entre diversas espécies de tospovírus e seus vetores. No Brasil, F. schultzei é o principal vetor de tospovírus em tomateiros e outras hortaliças. F. occidentalis também é um vetor importante para tospovírus. Até o momento, T. tabaci só foi reconhecido como vetor de tospovírus em cebola. A importância de T. palmi como vetor ainda é questionável no Brasil.



Além dos tospovírus, os tripes são relatados como vetores dos seguintes fitovírus: Prunus necrotic ringspot virus, Prune dwarf virus, Tobacco streak virus, Raspberry bushy dwarf virus, Maize chlorotic mottle virus, Sowbane mosaic virus, Pelargonium flower break virus e Sweet clover necrotic mosaic virus. A maioria destes vírus é transmitida por pólen contaminado com partículas dos vírus. Os pólens contaminados podem ficar aderidos aos corpos dos tripes que transportam a flores ou outras estruturas de plantas sadias e o vírus provavelmente infecta a planta pela polinização ou por inoculação mecânica durante a alimentação do tripes. Cinco espécies de tripes, F. occidentalis, T. tabaci, T. imaginis, T. australis e Microcephalothrips abdominalis foram relatadas como vetores por esta maneira de transmissão.



O que são os tospovírus?



Os tospovírus são vírus pertencentes à família Bunyaviridae e ao gênero Tospovirus. É interessante notar que a família é formada principalmente por vírus que infectam animais e humanos e a maioria é transmitida por artrópodes. O gênero Tospovirus inclui somente vírus que infectam plantas e ao mesmo tempo os tripes, que são considerados vetores no mundo agrícola por disseminar os tospovírus.



Os tospovírus têm destacada importância em várias culturas. No início acreditava-se que existia apenas uma espécie, o Tomato spotted wilt virus, causadora da doença conhecida como vira-cabeça do tomateiro. Estudos mostraram que existem várias espécies distribuídas em todo o mundo, principalmente nas regiões tropicais. No Brasil, seis espécies de tospovírus já foram relatadas: (1) Tomato spotted wilt virus; (2) Tomato chlorotic spot virus; (3) Groundnut ringspot virus, de ocorrência generalizada em tomate, pimentão, alface, amendoim, ornamentais etc.; (4) Chrysanthemum stem necrosis virus, encontrado principalmente em tomate e crisântemo; (5) Iris yellow spot virus, um vírus encontrado em cebola no Nordeste brasileiro; e (6) Zucchini lethal chlorosis virus, um vírus de importância em cucurbitáceas em algumas regiões do Brasil.



Tatsuya Nagata,
Universidade Católica de Brasília
Alice Kazuko Inoue-Nagata,
Embrapa Hortaliças



* Este artigo foi publicado na edição número 17 da revista Cultivar Hortaliças e Frutas, de dezembro/2002, janeiro/2003.

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