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segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Pequena broca, grande rombo

As perdas ocasionadas pela broca-pequena-do-tomateiro chegam, em média, a 45% da produção nacional. Portanto, toda a atenção para com essa praga é indispensável.

“Ou o produtor acaba com a broca-pequena-do-tomate (BPT), ou ela acaba com ele”. Parece exagero, mas guardadas as devidas proporções a situação é mais ou menos essa.



A discussão sobre o controle da “BPT” é bastante complexa. Tentar explicar o porquê da dificuldade de se controlar esta praga levaria algum tempo e algumas perguntas fatalmente ficariam sem respostas. Isto porque o problema poderia ser encarado por vários aspectos: o acadêmico, o técnico e o da produção.



A “BPT” é uma praga latino-americana e as circunstâncias que envolvem o problema são as mesmas em todos os países onde ela ocorre. A sua importância pode variar com a região. Mas, o que não varia é a opinião sobre ela: “é uma praga de difícil controle”.



No Brasil, devido à importância da sua tomaticultura, estima-se uma perda média de 45% da produção nacional. O problema assume uma proporção maior, principalmente na produção para o consumo “in natura”, onde, em algumas regiões, a perda pode facilmente chegar aos 100%.



Desde quando foi constatada como praga em 1922, se buscam alternativas para o seu controle, aplicadas de formas preventivas, curativas e integradas. A maioria dos trabalhos publicados (cerca de 70%) se dedicou a isso, podendo-se afirmar que foram tentados todos os métodos conhecidos e alguns até exóticos, como o uso de farinha de trigo.



Talvez, a maior preocupação com o controle em prejuízo de um melhor conhecimento sobre o alvo tenha contribuído significativamente para o agravamento do problema.



Por uma série de fatores os inseticidas foram e são os mais recomendados para uso contra a “BPT”. Entretanto, a insatisfação com os resultados, via de regra lotéricos, se perpetua no tempo e no espaço: “Mariconi, em 1958, achava difícil o controle químico da broca, onde, com freqüência, os resultados obtidos eram parciais ou nulos em grandes infestações; Bertoloti e colaboradores criticaram os inseticidas usados até 1976, dividindo-os em duas categorias: os ineficientes e os impróprios; Moreira e colaboradores, em 1985, afirmaram que mesmo com o emprego dos modernos inseticidas, o controle da “broca-pequena” continuava difícil. Opinião mantida em 1989 por Reis e colaboradores e Rodrigues Filho, em 2000”.



Claro que existem resultados positivos com o uso desses produtos. Porém, a falta de conhecimentos sobre a bioecologia da espécie e uma eficácia determinada pela intensidade de infestação - medida através de uma estimativa percentual de dano - nos deixa uma dúvida cruel: o resultado é conseqüência do produto usado, de uma baixa ocorrência da praga, ou ele só funciona nessa última condição? Seguramente é difícil de se afirmar. Certo é, que a eficácia de controle depende de fatores que vão além da praticabilidade agronômica.



Por questões práticas, o controle da “BPT” vem sendo obrigatoriamente químico, preventivo e baseado na agressividade da espécie. Por isso, associado a um alto custo da produção, a tomaticultura estacionou no uso desesperado de inseticidas, provocando a inserção sistemática do tomate na lista de produtos contaminados - em média são realizadas três pulverizações semanais, iniciadas ainda na floração e geralmente praticadas com critérios duvidosos. Cerca de 70 a 80% do total de pulverizações em uma safra são dirigidas contra a “BPT”. Aqui, um ou outro fator deve ser levado em conta: o método químico é ineficaz ou o seu uso de forma constantemente imprópria o colocou nessa posição? Em algumas regiões a hipótese de resistência não pode ser descartada. (Ver Cultivar HF, n0 1 - 2000)



A preocupação com este quadro levou à busca de alternativas. Entretanto, por privilegiar quase que exclusivamente os potenciais dos métodos, difundidos através de uma ótica universal de uso, várias delas se mostraram insuficientes, inadequadas ou caíram em descrédito. Exemplo típico disto foram as armadilhas luminosas. Apesar de uma “brilhante idéia”, a sua prematura vulgarização, ainda sob “design acadêmico”, determinou a sua falência prematura.



Recentemente, um programa de Manejo Integrado de Pragas (MIP) indicou uma saída significativa para a tomaticultura. Através de estratégias de monitoramento, o modelo provou ser possível reduzir em até 60% a freqüência de pulverizações, mantendo a produtividade. Paralelamente, a prática da amostragem agregou vantagens interessantes. Dentre elas, possibilitou que os agricultores tivessem um contato mais real com os problemas, eliminando mitos e vícios, e os levou a incorporar fatores que até então não eram considerados: custo/benefício, qualidade, auto-estima, valor agregado, mercado etc.



Entretanto, no caso da “BPT”, a total dependência do meio químico para o controle se transformou no ponto crítico do MIP. Visando dar sustentabilidade ao MIP, principalmente na pequena produção, foi desenvolvido um método baseado no “ensacamento de pencas” (Ver Cultivar HF, n0 6 - 2001). O processo permite reduzir nível de infestação da “BPT” para patamares inferiores a 5%, sem a necessidade de pulverizações. Cabe ressaltar que a sua utilização depende da avaliação da relação custo/benefício em cada sistema de produção e o principal ponto crítico do procedimento é a inexistência do produto manufaturado.



Uma novidade promissora está para surgir no mercado brasileiro: feromônio sexual sintético. Empiricamente, o feromônio vem sendo usado na Venezuela e na Colômbia para monitoramento e controle, apresentando resultados potencialmente estimulantes.



No Brasil, o Feromônio se encontra registrado no Ministério da Agricultura sob o nome “Bioneo”. Ainda em fase de desenvolvimento de campo, pela empresa detentora do registro e o Departamento de Entomologia e Fitopatologia da UFRRJ, “Bioneo” tem se apresentado como uma ferramenta indispensável no controle da broca-pequena-do-tomateiro, devendo estar disponível para uso já no próximo semestre.



Em síntese, muitas propostas, poucas soluções! O que fazer então? Como já foi dito, o problema é tão complexo e tão essencialmente filosófico, que não poderia ser esgotado em um artigo. A experiência tem mostrado que é fundamental eliminar a postura de controle universal. A “BPT” é uma praga que exige medidas integradas e para cada situação existe uma conduta mais adequada. Conduta esta que obrigatoriamente deve ser avaliada através da relação custo/benefício e ponderada pelas características atuais de mercado, onde a qualidade pode ser o componente diferencial entre lucro e prejuízo. Isto implica em mudanças de atitude em relação ao controle fitossanitário para todos os atores envolvidos com a questão, principalmente produtores. Afinal, a atividade é deles.



Irineu Lobo Rodrigues Filho,
UFRRJ



* Este artigo foi publicado na edição número 15 da revista Cultivar Hortaliças e Frutas, de agosto/setembro de 2002.

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