Opinião - Vacina em abril

Os produtores rurais estão sendo notificados pelos órgãos governamentais para, obrigatoriamente, vacinar seus rebanhos bovinos neste mês de abril, que popularmente é chamado o mês de chuvas mil, e fico pensando como é teórico mesmo esse pessoal que vive em gabinetes de ar refrigerado, longe dos sertões e não conhece a realidade do sertão nordestino. Ao que me parece não existe incidência de aftosa no Ceará, nem o Ceará é exportador de carne, ou de bovinos.

Todavia, como em outras regiões do Brasil o mal existe e dali se exporta carne exige-se a vacinação e estende-se a todo o território brasileiro. E a vacinação é feita duas vezes por ano, em abril e outubro. O mal, porém, está em não se avaliar que o clima do sul e sudeste do Brasil é diferente do clima nordestino e, assim, se a vacinação naquelas regiões dá-se naqueles períodos, já o mesmo não acontece no Nordeste.

E não atentam também para a circunstância de que o criatório de gado dá-se tanto pelo regime intensivo, isto é, de gado preso em vacarias ou em currais acessíveis, como se faz o criatório pelo regime extensivo, isto é, de gado solto em campo aberto. Por isso, em qualquer fase do ano pode-se vacinar com facilidade o gado que vive preso, porém, o mesmo não acontece com o gado criado em campo aberto, no regime extensivo.

Neste caso, é necessário que o gado que se encontra solto no campo seja vaquejado, isto é, pegado no campo, nas matas, em brejos onde se encontre, e levado aos currais para vacinação. E quem vive em gabinetes de ar refrigerado no sul, não pode avaliar o sacrifício e a dificuldade que tem de fazer o criador de pegar ou mandar pegar, na marra, o boi, a vaca, o touro e conduzi-los, muitas vezes longinquamente, com chuvas e terreno lamacento, para os currais e vaciná-los.

E veja-se, se não fizer isso está sujeito às represálias que o governo promete se não fizer a vacinação. É ou não é um desestímulo ao criatório? Por que não mudar, por exemplo, o período de vacinação, para o Ceará, nos meses de junho e dezembro?

LUÍS CRUS DE VASCONCELOS
Professor e advogado