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domingo, 10 de agosto de 2008

Agricultores de sucesso à custa de muitas horas de trabalho


No meio da crise que assola a agricultura, motivando cada vez mais o abandono da actividade, há no Oeste quem resista e consiga tirar alguns dividendos, à custa de muito suor. O OESTE ONLINE deslocou-se a quatro concelhos para contar aqui as histórias desses agricultores.



“Nenhum agricultor consegue sobreviver a cumprir oito horas como uma pessoa normal” - Agostinho Santos



“Se algum lucro tiramos é devido ao excesso de horas de trabalho. Nenhum agricultor consegue sobreviver a cumprir oito horas como uma pessoa normal”, explica Agostinho Santos, 54 anos, um importante produtor de pêra rocha em Vale Covo, Bombarral.

“Posso ser um caso bem sucedido, mas é derivado ao excesso de horas que faço. Nesta altura do ano há dias em que efectuo 20 horas de trabalho. Chego a deitar-me à meia-noite e levantar-me às quatro da manhã”, conta.

Proprietário de 18 hectares de pomar, produziu no ano passado 223 toneladas de pêra, que foram todas vendidas para uma organização de produtores, que é a responsável pela exportação para Holanda, França e Brasil.

A produção resultou num encaixe financeiro bruto de 75 mil euros. Ao longo dos 31 anos que trabalha por conta própria, o agricultor já investiu cerca de 300 mil euros. “Tive de recorrer ao crédito”, indica, admitindo que “um dos grandes problemas é o investimento em máquinas e alfaias agrícolas”.

Agostinho Santos mostra-se satisfeito com o trabalho no campo. “É uma coisa de que gosto. Comecei a trabalhar com o meu pai com 11 anos, assim que saí da escola. Só me deixava estudar se eu fosse para padre. Como não quis, fiz a quarta classe e vim para o campo. Depois casei e continuei a trabalhar na agricultura. Primeiro a amanhar vinha, depois plantei batatas até criar pomares. Hoje dedico-me à pêra rocha, que é a melhor solução para os agricultores do Oeste, porque se vende o que se produz”, relata.

“Meto pessoal na altura da campanha da poda, da monda e da colheita. Na colheita andamos duas semanas com cerca de 20 pessoas”, descreve.

Para o produtor, a crise na agricultura pode ser combatida com duas medidas que considera essenciais – “baixar os custos dos factores de produção, nomeadamente os produtos fito-fármacos, e os preços do combustível”.



“Há um sacrifício diário. Não são contabilizadas as horas que andamos à volta da exploração” - António Rego



“Investi um milhão de euros ao longo de uma década e tive de recorrer à banca. Não tem sido difícil até aqui, primeiro pelo nome que vinha de trás, que era o do meu pai, e depois pelo meu, que já tem algum peso”, orgulha-se António Rego, 41 anos, produtor de vinho do Casal da Misericórdia, na Lourinhã.

O sucesso – “que só se pode chamar assim perante a conjuntura de crise que atravessamos” – é explicado por uma grande dose de “sacrifício diário”. “Não são contabilizadas as horas que andamos à volta da exploração. Por exemplo, hoje fui para o campo com um tractor às seis da manhã”, refere.

Com cerca de 80 hectares de vinha, divididas em várias parcelas, empregando 5 a 7 pessoas diariamente, que aumentam durante as campanhas. António Rego produz um milhão de litros por ano. “Não engarrafamos, é tudo a granel. Consigo vender tudo. Não tenho vinho por vender”, aponta.

“A vinha apesar de não ser um sector que tenha uma mais valia muito grande, ainda é estável. Nas produções hortícolas somos capazes de ter uma parcela em que a venda é boa, mas podemos ter podemos cinco parcelas que não somos capazes de comercializar. É imprevisível e não podemos prever a receita no início do ano”, justifica a opção.

“Já trabalho na agricultura desde que estava com o meu pai, fui estudar e por minha conta estou desde os 25 anos. A área de vinha tem vindo a aumentar e também tenho uma área significativa de hortícolas e de pêra rocha”, revela.

António Rego sustenta que “não era difícil” inverter o cenário de dificuldades financeiras que recai sobre os agricultores. “Só era preciso haver vontade política para criar um sistema que estabelecesse critérios para regular a disparidade dos preços do produtor ao consumidor”, adianta como primeira medida.

Por outro lado, “o Governo podia abdicar do excesso de impostos que anda a praticar, o que levaria a baixar os custos de produção”.

O vitivinicultor também não hesita em defender o fim dos subsídios. “Eu recebo subsídios e ajudas, mas há muitos que não os utilizam na agricultura ou são mal empregues. Assim, se os subsídios acabassem era bom, porque só quem tinha unhas é que tocava guitarra, e a concorrência seria nivelada”, manifesta.

As críticas estendem-se à concorrência do pequeno produtor, que “não está colectado nas Finanças mas faz um quintal de dois hectares com várias toneladas de produtos, que consegue vender no pequeno comércio e intermediário sem facturas”.

“Não tenho fins-de-semana nem férias. Se não trabalhasse tanto tinha de fazer das tripas coração para sobreviver” - Joaquim Henriques



Nos aviários de Joaquim Henriques, 60 anos, em Ameais, Caldas da Rainha, são criados 120 mil pintos. “Comecei com 1200 frangos há três dezenas de anos. A produção aumentou e tive de alargar a exploração. Só nos últimos pavilhões investi mais de 425 mil euros”, recorda.

A boa gestão do dinheiro por parte do avicultor levou-o a não ter necessidade de recorrer à banca. “Até agora ainda não foi preciso”, exclama.

Toda a criação de pintos tem venda assegurada a uma empresa com quem Joaquim Henriques estabeleceu um contrato. O segredo do negócio reside na escolha do produto certo para comercializar. “Comecei na agricultura com os pais, na vinha, depois fui cortar madeira e eucaliptos, dediquei-me de seguida à pecuária, por conta própria, mas como os porcos não davam dinheiro, dediquei-me à avicultura e à pêra rocha”, explica.

“Muito esforço, trabalho e economia” justificam o sucesso. “Não tenho horários, nem fins-de-semana, não se pode ter férias, é sempre contínuo. Se não trabalhasse tanto tinha de fazer das tripas coração para sobreviver”, reconhece.

Juntamente com o filho, Joaquim Henriques, que é presidente da direcção de uma associação de produtores de animais, transformou a empresa familiar num dos mais importantes aviários das Caldas da Rainha.

Mas apesar do êxito, o produtor acha que a situação podia ser melhor se fossem tomadas “medidas muito importantes”.

“Tudo o que se compra é caríssimo e o que se produz não vale nada. Não se tolera o intermediário ganhar muito dinheiro e o produtor não. O Governo devia fazer como no tempo de Salazar, que era estipular uma percentagem máxima de lucro da venda do produto até chegar ao consumidor, que assim ficaria com um preço mais barato e permitiria aumentar as vendas. É que não se admitem margens de mais de cem por cento de lucro do intermediário”, sustenta.



“É sair às seis da manhã e chegar a casa à meia noite. São dias a fazer vinte horas de trabalho” - João Pedro



“Vou tendo algum lucro, mas vou sempre investindo, agora vou fazer mais um hectare de estufas”, declara João Pedro, 35 anos, agricultor do Olho Marinho, Óbidos.

Com uma área de dez hectares de plantação de legumes ao ar livre, mais um hectare e meio de estufas, garante a produção semanal de 25 mil pés de alface, o que ao final de um ano representa cerca de 350 toneladas.

“Comecei com o meu pai desde pequeno e aos 19 anos estabeleci-me por conta própria e fiz estufas de legumes. A base maior é alface, que é 70 por cento de tudo o que faço. O resto é bróculos e outras culturas para intervalar e não ter as terras paradas”, refere.

Emprega diariamente três pessoas e com ele trabalha a esposa. “O rendimento bruto anda à volta dos 160 mil euros mas tudo o que se ganha investe-se. O último projecto de estufas há três anos custou 200 mil euros”, conta, reconhecendo que “no início da actividade foi um bocado complicado recorrer à banca”.

Hoje, o lucro consegue-se com “dias a fazer vinte horas de trabalho”. “É sair às seis da manhã e chegar a casa à meia noite”, desabafa.

“Comecei a fazer aquilo que me ensinaram e se hoje me mantenho é só porque gosto disto”, assegura.

A alface é um produto que para João Pedro “tem garantia de saída”. “Tenho vários compradores nos hipermercados e supermercados. Consigo escoar o que produzo, apenas há perdas de quinze por cento”, sublinha.

No seu entender, o que está mal e devia mudar tem a ver com o “acautelar à partida o destino da produção”.

“Andamos a fazer produções sem saber a maior parte para onde. Isso é que está mal. Se tenho venda para 10 compradores não devo produzir para 20. E se é um produto que vale, todos vão atrás produzir o mesmo e a seguir dá prejuízo, porque não se consegue vender. Isso é que está a arrasar os agricultores”, faz notar.



Francisco Gomes

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