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domingo, 24 de agosto de 2008

Matadouro público de Itapecuru: desrespeito com a população

Rogério Tomaz Jr. *

Ao se entrar no prédio, a sensação é a de ser fumigado por uma nuvem de bactérias. O ar espesso é completamente tomado pelo odor forte, resultado do cheiro fétido de sangue, fezes e restos de órgãos de animais, fungos em abundância e sujeira acumulada.

O Matadouro Público de Itapecuru-Mirim, mantido e gerido pela prefeitura, é o retrato da calamidade pública, em várias áreas, causada pela atual administração da cidade.

Soma-se a ele o próprio local de trabalho do prefeito, um prédio histórico que representa um patrimônio arquitetônico e cultural não apenas da população local, mas de todos os maranhenses, que identificam neste município, de 138 anos recém-completados, a tradição de um Maranhão outrora grandioso – antes da oligarquia Sarney se apossar da máquina estatal e levar o nosso estado à condição de um dos mais miseráveis do país.

Pois a sede da Prefeitura de Itapecuru-Mirim, caindo aos pedaços, está sendo reformada justamente agora, em período eleitoral. Uma maquiagem que vai alterar a fachada e a parte externa do prédio, mas não conseguirá esconder os quase quatro anos de total desprezo com o povo itapecuruense.

O matadouro, no entanto, não pode ser maquiado. A denúncia à Agência de Vigilância Sanitária do Estado já foi feita, por meio de cento e vinte fotografias que revelam a completa falta de condições sanitárias para funcionamento do abatedouro. As imagens também já foram divulgadas em praça pública, revelando o grau de preocupação que a prefeitura tem com a população.

O prefeito de Itapecuru é advogado, mas, ao que parece, isso não faz muita diferença. Inúmeras e gravíssimas infrações são observadas no matadouro: violação do direito humano à saúde, do direito humano à alimentação adequada e dos direitos trabalhistas, além de numerosas violações da legislação sanitária específica.

O prédio não possui água encanada, de modo que a limpeza do local é feita apenas quando um “caminhão-pipa” abastece a caixa d’água, o que ocorre, segundo um funcionário, apenas a cada duas ou três semanas. Ademais, a parte externa imediatamente ao fundo do matadouro, como mostram as fotos (algumas disponíveis em site citado ao final do artigo), é um “depósito” com centenas carcaças e restos de animais, que ocupavam, há duas semanas, quando as imagens foram registradas, uma área de cerca de quatrocentos metros quadrados. Para que não existisse esse “cemitério de animais”, bastaria que o material fosse recolhido e incinerado, evitando a proliferação de vermes, bactérias e fungos que espalham doenças e colocam em risco toda a população de Itapecuru e de municípios menores da região, que também consomem a carne saída do matadouro.

Se o cheiro e as condições sanitárias do matadouro de Itapecuru incomodam, sendo eufemista, mais grave ainda é o odor da incompetência administrativa e a constatação do desprezo com a saúde pública e com os direitos da população, bem como com as condições de trabalho dos funcionários públicos, que são obrigados, neste caso, a se expor à sorte de doenças que podem se espalhar através da imundície.

Resta saber o que as autoridades públicas farão diante desta denúncia, bem como ver o que a população dirá, sobretudo através das urnas, sobre esse e outros aspectos da administração municipal. A (ir)responsabilidade maior, entretanto, todos sabem de quem é.

*Jornalista formado na UFMA, mestrando em Comunicação da Universidade de Brasília (UnB) e militante de direitos humanos

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