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segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Síndrome da Circovirose Suína: métodos para avaliar a ocorrência, incidência e controle na granja

A suinocultura moderna se tornou eficiente através da intensificação das atividades associando-se tecnologia genética, nutricional e sanidade, além de esforços na adequação e busca de melhorias em manejo, ambiência e mesmo gerenciamento administrativo. Esta intensificação na produção não trouxe somente benefícios para a atividade. Trouxe também desafios como o aparecimento e aumento na incidência de doenças. Uma destas doenças é a Síndrome da circovirose suína (SCS) anteriormente não detectada ou significante, causada pelo Circovírus, pertencente à família Circoviridae.

Os vírus pertencentes à família Circoviridae infectam diversos animais como suínos, javalis, psitacídeos, gaivotas, pombos, gansos, e possuem característica de se associar com doenças que causam lesões em tecidos linfóides e imunossupressão. Nos suínos, são conhecidos dois tipos de Circovírus, o Circovírus tipo 1 (PCV1) e o Circovírus tipo 2 (PCV2), sendo que o PCV2 é o vírus responsável por causar a Síndrome da Circovirose suína. Um importante trabalho foi realizado por pesquisadores brasileiros e demonstraram a infecção também em suídeos, especificamente em javalis onde a prevalência de animais positivos encontrada foi de 84,9%, e a prevalência de criatórios (granjas) de javalis foi de 100%, demonstrando que a SCS é endêmica também em javalis no Brasil.
As manifestações clínicas mais freqüentes associadas ao PCV2 são: a Síndrome Multissistêmica de Definhamento dos Suínos e a Síndrome da Dermatite e Nefropatia Suína, ambas afetando animais após o desmame. O PCV1, apesar de ser encontrado em suínos, não é considerado patogênico.

A SCS é reconhecida como uma doença emergente e tem sido descrita em vários países onde a suinocultura tem grande expressão econômica. A Síndrome da Circovirose Suína tem sido relatada em países de todo o mundo onde a suinocultura está presente como Canadá, Estados Unidos, Inglaterra, Alemanha, Espanha, Dinamarca, Taiwan, Coréia, México, Argentina, dentre vários outros. No Brasil, a Síndrome foi descrita pela primeira vez em leitões de crescimento no ano de 2000, provenientes de granjas com histórico de emagrecimento progressivo. A partir desta data, tem sido descrito casos em todas as principais regiões produtoras de suínos do Brasil, como a região Sul, Sudeste e Centro-Oeste. Outras regiões com suinocultura industrial também já detectaram a presença do agente e da síndrome. A SCS tem sido descrita em quase todos os tipos de granjas incluindo: granjas de ciclo completo, operações em múltiplos sítios de tamanho variando entre 30 a 10.000 matrizes, e também suinocultura não tecnificada.

Assim, pela Síndrome da Circovirose Suína estar disseminada por praticamente todos os principais rebanhos do Brasil e do mundo, esta causa grandes prejuízos econômicas à atividade. Estudos realizados em rebanhos afetados pela síndrome mostraram que a morbidade e a mortalidade variam dependendo do estágio do surto e o manejo dentro da unidade afetada. A taxa de morbidade é relativamente baixa entre de 4 - 25%, enquanto a mortalidade pode alcançar índices de até 100%. Temos visto também que a dinâmica de infecção dentro da granja se altera em função de diversos fatores, principalmente manejo, cuidados sanitários e nutrição.

Os prejuízos decorrentes da síndrome nos plantéis afetados são substanciais para a indústria suinícola, como mortes de animais; queda do desempenho por redução no ganho de peso e uma piora na conversão alimentar; gastos desnecessários com antibióticos e outros medicamentos para combate de doenças secundárias que são agravadas pela presença da Síndrome; além de induzir quadros de pneumonia e diarréia que elevam os números de animais refugos e/ ou debilitados.

O PCV2 tem sido encontrado associado a doenças virais por Parvovírus e vírus da PRRS, e a infecções bacterianas causados por Streptococcus suis, Bordetella bronchiseptica, Pasteurella multocida, Actinobacillus pleuropneumoniae, Haemophilus parasuis, Escherichia coli, Lawsonia intracellularis dentre outras. Na tabela 2 há uma descrição das bactérias mais encontradas em associação aos quadros de SCS no Brasil. Além destes agentes, têm sido relatados agentes secundários habitualmente associados com imunossupressão como Pneumocystis carinii, Staphylococcus hyiccus, Aspergillus spp e Chlamydia spp.

Em animais acometidos no Brasil com a Síndrome da Circovirose Suína, tem sido relatado que a lesão mais freqüentemente encontrada é a linfoadenomegalia, seguida de consolidação pulmonar, lesão hepática e lesão renal, em ordem decrescente de freqüência de lesões encontradas. Mas é sempre importante lembrar que o aumento de tamanho dos linfonodos depende da fase da infecção, assim na fase crônica pode-se observar sinais clínicos das infecções secundárias e linfonodos diminuídos de tamanho.

Avaliação da ocorrência da Síndrome da Circovirose Suína na granja
Como visto acima, pela Síndrome da Circovirose Suína apresentar perdas produtivas e sinais clínicos inespecíficos, comprometimento de um grande número de órgãos, e associação com diversas doenças, é necessário que o diagnóstico da SCS seja bem conduzido, consistente e baseado na associação de três critérios:

1º.- Presença de sinais clínicos e achados de necropsia compatíveis com a doença;

2º.- Demonstração do antígeno viral dentro das lesões;

3.- Presença de lesões histopatológicas características.

A análise destes dados em conjunto é também importante pelo fato da infecção por PCV2 não implicar necessariamente na presença da Síndrome no rebanho, apesar de haver uma grande correlação entre a presença do vírus e a presença da Síndrome, por isso a nossa predileção por um exame que não detecte somente presença ou ausência do agente como a PCR.

Na avaliação clínica dos animais nas diversas fases é importante observar:

- Mortalidade da Creche, Recria/Crescimento e Terminação;

- Presença de tosse na Creche, Recria/Crescimento, Terminação (rara, freqüente, intensa e seu tipo, “seca” ou produtiva);

- Presença de fezes moles/diarréia na Creche, Recria/Crescimento, Terminação (rara, freqüente, intensa e seu tipo);

- Desuniformidade na Creche, Recria/Crescimento, Terminação.

O vírus pode ser identificado diretamente a partir do isolamento viral, PCR, análise Imunoistoquímica (IHQ) e hibridização in “situ”. Também pode ser identificado indiretamente através de sorologia ou seja pesquisa de anticorpos por imunofluorescência indireta, imunoperoxidase e ELISA.

Atualmente, a imunohistoquímica (foto 2) é a técnica de rotina mais utilizada no diagnóstico da Síndrome pois esta forma de diagnóstico permite a combinação de técnicas histológicas, bioquímicas e imunológicas, além de possuir boa sensibilidade, especificidade e rapidez, além de custo baixo. Um aspecto importante e interessante na imunoistoquímica é a observação da presença do agente e também da lesão e possibilidade de classificação da lesão quando a sua característica e sua fase na doença.

Exames para isolamento de outros agentes é muito importante não só para diagnóstico diferencial, mas também para conhecimento da presença de agentes secundários ou oportunistas e sua sensibilidade aos antimicrobianos que serão utilizados no programa de controle sanitário da granja.

Avaliação da dinâmica da Síndrome da Circovirose Suína na granja
Apesar da situação em que praticamente todas as granjas apresentam o vírus e sua grande maioria apresenta a síndrome, necessitamos definir a ocorrência e a dinâmica especificamente na granja para implantação de medidas preventivas e corretivas, assim como avaliação destas medidas. Para isto, podem ser utilizados a sorologia e os exames de detecção dos vírus.

Sorologia
A sorologia é uma ferramenta eficaz, pois permite a realização do soroperfil da granja, ou seja, através da coleta de amostras de sangue de animais em diversas faixas etárias é possível inferir a fase em que se iniciou os desafios e sua dinâmica na granja. O uso dos dados laboratoriais para construção de planos estratégicos de controle ou mesmo para avaliação destes planos é utilizado em rotina pelas granjas para doenças como pneumonia enzoótica causada pelo Mycoplasma hyopneumoniae e da enteropatia proliferativa dos suínos (ileíte) causada pela Lawsonia intracelullaris . Estas já vêm sendo controladas com maior eficácia através do uso do soroperfil.

Estudo brasileiros já demonstraram a dinâmica mais comumente em nosso meio o que coincide com as apresentações clinicas relatadas com maior ocorrência, geralmente na recria e terminação. O perfil sorológico para o CVS-2 é variado de granja para a granja, mas caracterizou-se na fase inicial de queda de anticorpos da maternidade para creche e crescimento seguindo de um aumento de títulos até a fase adulta.

Porém é sabido que há desafios diferentes entre granjas e apresentações de formas diferentes em fases diferentes. Isto também foi demonstrado através do soroperfil. O soroperfil é uma ferramenta eficaz para a implantação de medidas de controle com vacinação pois permite a utilização da vacina no momento adequado ou seja pré-infecção.

Outra situação onde o uso do soroperfil se faz necessário é na ocorrência de reincidência ou segundo surto, até mesmo situações de surtos recorrentes, considerando a necessidade de melhor conhecimento da dinâmica da infecção viral na granja que pode ser alterada em função de surtos de micotoxicose mesmo subclínicas, alterações na composição do plantel reprodutivo quando há intensa reposição ou troca genética e mesmo expansão do plantel.

A amostragem, incluindo a seleção das amostras merece atenção especial. A amostra necessária é soro. Os animais para a coleta de sangue devem ser animais sorteados ao acaso e nunca escolher animais refugos ou selecionados, de modo a representar a população na sua fase de vida. São amostrados no mínimo de 15 a 25 animais (sendo recomendável 22 animais) por fase ou faixa etária. As idades ou fases amostradas são cinco: 21 dias ou desmama, 35 dias, 70 dias, 100 dias e 145 dias. Além destas, a análise de amostras das matrizes é sempre interessante para conhecer o nível imunológico das fêmeas, inclusive quando do uso de vacinas nestas.

Imunohistoquímica
Um método importante para avaliação da dinâmica da Síndrome na granja é o perfil da incidência viral, ou seja, a pesquisa do vírus nas diversas faixas etárias. Isto poderia ser realizado através de testes como isolamento viral, PCR ou Imunoistoquímica (IHQ). O isolamento viral é laborioso e não se justifica para este fim mas sim para outros estudos e estratégias como seleção de cepas para produção de vacinas.

Pelo fato do vírus contaminar muito o ambiente, e a simples presença do vírus nem sempre significar a ocorrência da doença, a PCR também apresenta limitações além do custo elevado. Neste aspecto, a Imunoistoquímica se mostra uma ferramenta extremamente eficaz, pois permite a visualização direta do vírus e também a avaliação das lesões causadas pelo vírus, demonstrando não só a infecção pelo vírus, mas também o curso da doença na granja.

Para a coleta de material, recomenda-se que sejam colhidos linfonodos inguinais, de ao menos seis animais por fase nas seguintes idades: 35 dias, 60 dias, 90 dias e 120 dias. Muita atenção deve ser dada na escolha dos animais e coleta/preservação do material.

Os resultados indicam ou não a presença do vírus, e também a lesão que de acordo com sua morfologia, pode significar momentos iniciais ou de resolução da infecção.

A partir da interpretação dos exames baseado na classificação em associação com o histórico e sinais clínicos consegue-se compreender a dinâmica da infecção na granja. Estudos tem sido realizados na avaliação de medidas de controle.

Conclusão
A Síndrome da Circovirose Suína é uma das mais importantes doenças que acomete a suinocultura brasileira e diversos esforços vem sendo empregados para o controle desta com sucesso.

Com certeza, mais importante do que as análises é a interpretação dos resultados para a boa tomada de decisão e correção / prevenção do problema. Os resultados das análises laboratoriais em si pouco significam se não forem consideradas as observações do campo (índices, sinais clínicos, evolução do quadro, resposta a intervenções, epidemiologia, etc) sendo fundamental, então a interação entre o técnico a campo e o laboratório para discussão dos casos. É muito importante também que a monitoria seja discutida entre a equipe técnica a campo e o sanitarista para que sejam mantidos os procedimentos eficazes e implantadas melhorias.

A avaliação da ocorrência e da dinâmica da infecção pelo PCV2 na Síndrome da Circovirose Suína na granja é uma ferramenta importante para compreender a realidade da granja e auxiliar na implantação de medidas corretivas, esquemas de vacinação e também avaliação e acompanhamento.


* Luiz Eduardo Ristow é médico veterinário, mestre em medicina veterinária preventiva. Este artigo contou com a colaboração do acadêmico Pedro Diniz Mosqueira.


Fonte : Revista PorkWorld -Edição 40.

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