Michelle Obama começou a escavar uma porção do gramado sul da Casa Branca, na sexta-feira, para fazer uma horta, a primeira na residência presidencial desde a "horta da vitória" plantada por Eleanor Roosevelt durante a Segunda Guerra Mundial. Não haverá beterrabas - o presidente não gosta delas -, mas rúcula fará parte da seleção de plantas que serão cultivadas.
Embora a horta deva fornecer comida para a refeições da primeira família e para jantares formais na Casa Branca, seu papel mais importante, disse a primeira dama, será educar as crianças sobre frutas e legumes saudáveis de cultivo local, em uma era na qual a obesidade e o diabetes se tornaram preocupação nacional.
"Minha esperança", declarou Michelle Obama em entrevista em seu escritório, na ala leste da Casa Branca, "é que, por meio das crianças, as famílias se eduquem, e isso por sua vez permita que nossas comunidades se eduquem".
Vinte e três alunos de quinta série da Bancroft Elementary School, em Washington, a ajudarão a escavar a terra para a horta de 100 m quadrados, em um local que poderá ser visto pelos transeuntes que passem pela rua E, em Washington - fica bem perto das balanças usadas pelas filhas dos Obama. Os alunos da escola, que mantém uma horta desde 2001, também ajudarão a plantar, colher e cozinhar os legumes, ervas e frutas.
Virtualmente toda a família Obama, incluindo o presidente, ajudará a arrancar ervas daninhas, "quer gostem, quer não", disse Michelle Obama rindo. "Mas não sei dizer se minha mãe vai ajudar". A mãe dela, disse Obama, provavelmente ficaria sentada assistindo ao trabalho dos outros e comentaria: "que adorável. Você esqueceu de arrancar ali".
Instalar ou não uma horta na Casa Branca se tornou mais que uma questão de paisagismo. A questão assumiu importante papel simbólico nos campos político e ambiental, e os Obama há meses vinham sendo alvo de pressão por parte de grupos que defendem o cultivo de mais alimentos locais e orgânicos, o que pode ajudar a tornar a alimentação mais saudável e a reduzir a dependência de grandes complexos agrícolas industrializados, que empregam mais petróleo para transporte e mais produtos químicos como fertilizantes.
E a promoção de uma forma mais saudável de comer se tornou parte importante da agenda pessoal de Michelle Obama.
A primeira dama, que diz jamais ter tido uma horta, lembra que a idéia lhe surgiu da experiência adquirida como uma mãe trabalhadora que precisa prover uma boa dieta às filhas dos Obama, Malia e Sasha. Comer fora três vezes por semana, pedir uma pizza e jantar sanduíches foram hábitos que prejudicaram as meninas, que terminaram engordando. O pediatra disse a Obama que ela precisava começar a pensar mais sobre nutrição.
"Ele fez esse alerta", disse a primeira dama, e uma nova dieta ajudou as meninas a perder peso em poucos meses.
Dan Barber, proprietário do Blue Hill, um restaurante orgânico em Pocantico Hills, Nova York, costuma cultivar muitos dos ingredientes que usa em sua culinária, e disse que "o poder de Michelle Obama e dessa ordem pode ser criar uma mensagem poderosa sobre a alimentação saudável que não abre mão de alimentos deliciosos. Não creio que seja exagero imaginar que isso possa resultar em mudança real".
Embora o casal Clinton cultivasse alguns legumes em vasos no telhado da Casa Branca, a horta dos Obama será muito mais ampla, com 55 variedades de vegetais - decididas com base em uma lista preparada pela equipe de cozinha -, cultivadas com base em sementes orgânicas e mudas preparadas nas estufas da residência presidencial.
Os Obama alimentarão seu amor pela comida mexicana com coentro, tomates-cereja e pimentas. Haverá seis variedades de alface, e mais espinafre, acelga, couve e couve-de-folhas. Para as sobremesas, haverá um canteiro de cerejas. E as ervas incluirão algumas variedades incomuns. Charlie Brandts, um carpinteiro da Casa Branca que cria abelhas, cuidará de duas colmeias para produzir mel.
O custo total das sementes e da terra é de US$ 200, diz Sam Kass, chefe assistente de cozinha na Casa Branca. Ele preparava refeições saudáveis para a família Obama em Chicago, e é mais um proponente dos alimentos locais. Kass supervisionará a horta.
Cristeta Comerford, a chefe executiva da cozinha da Casa Branca, disse que estava ansiosa por planejar cardápios usando os produtos da horta, e Bill Yosses, que responde pelas sobremesas, também se declarou ansioso pela temporada de cerejas.
Os jardineiros e a equipe de cozinha da Casa Branca cuidarão da maior parte do trabalho, mas outros membros da equipe se ofereceram como voluntários.
O mesmo vale para os alunos de quinta série da escola Bancroft. "Nada é mais divertido", disse a primeira dama, "do que vir à Casa Branca e colher alguns legumes, e depois ir à cozinha e ajudar Cris, Sam e Bill a cortar e preparar os alimentos, experimentando de verdade as alegrias do trabalho realizado".
Para as crianças, ela disse, o que mais importa é o sabor, e alimentos frescos e locais sempre têm o melhor sabor.
"Um delicioso tomate plantado em sua horta é uma das coisas mais saborosas que você poderá comer", ela afirmou. "E minhas filhas sabem a diferença. Por isso é que consigo convencê-las a experimentar coisas novas".
"Eu queria poder transmitir o que aprendi a uma base mais ampla de pessoas. E que maneira melhor de fazê-lo do que fazer uma horta no gramado sul da Casa Branca?"
Para os cidadãos urbanos que não dispõem de jardins ou quintais, o milhão de hortas comunitárias existentes nos Estados Unidos pode desempenhar papel importante, afirmou Obama.
Mas a primeira dama enfatizou que não desejava que as pessoas se sentissem culpadas caso não tivessem tempo para cuidar de uma horta. Mesmo assim, poderiam promover muitas mudanças saudáveis em sua alimentação.
"Basta começar com a própria despensa", ela aconselhou. "Eliminar os alimentos processados, tentar cozinhar uma refeição do zero com mais frequência e tentar incorporar mais frutas e legumes".
The New York Times
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