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segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Epidemiologia da rotavirose suína

ALFIERI, A.A.
Laboratório de Virologia Animal, Departamento de Medicina Veterinária Preventiva, Centro de Ciências Agrárias, Universidade Estadual de Londrina (UEL) (e-mail: alfieri@uel.br).

Na criação de leitões várias causas de caráter zootécnico, nutricional e sanitário podem determinar aumento na taxa de mortalidade pré-desmame que, se não controladas adequadamente, podem comprometer substancialmente o desempenho econômico da atividade (Quadro 1). No aspecto sanitário, a diarréia neonatal é considerada mundialmente a principal causa infecciosa de mortalidade de leitões no período de aleitamento.

Porém, os prejuízos econômicos determinados pelos episódios de diarréia em leitões lactentes, e também em animais recém-desmamados, não resumem-se aos aumentos na taxa de mortalidade. Devem ainda ser considerados os custos adicionais com a aquisição de medicamentos, com a mão de obra, o menor desempenho dos animais acometidos por episódios de diarréia de grande intensidade, a desuniformidade dos lotes, além da maior predisposição dos leitões a outras infecções, particularmente àquelas que comprometem o aparelho respiratório.

A etiologia da diarréia neonatal é multifatorial. Fatores determinantes, relacionados aos microrganismos entéricos patogênicos, e fatores predisponentes, ligados ao tipo de manejo zootécnico-sanitário, atuando em associação, determinam tanto a freqüência de ocorrência quanto a intensidade dos episódios de diarréia na maternidade e na creche.

Com relação aos fatores predisponentes, instalações e nutrição inadequadas, falhas nos processos de limpeza e desinfecção e não assistência ao parto, entre outras falhas de manejo, contribuem significativamente com a manutenção do caráter endêmico das diarréias em leitões de muitos plantéis.

Entretanto, uma gama de microrganismos, atuando isoladamente ou em associação, são os fatores determinantes de infecções entéricas em leitões que são responsáveis por episódios de diarréia que são seguidos por desidratação, desequilíbrio eletrolítico e acidose que, na dependência do grau de intensidade, podem ocasionar a refugagem e mesmo a morte de alguns animais.

Várias classes de microrganismos como bactérias, parasitas e vírus podem ocasionar enterites em leitões. A colibacilose (Escherichia coli k88, k99, 987P e F41) e a clostridiose (Clostridium perfringes tipo C) são as infecções bacterianas mais freqüentes em leitões lactentes. Com relação às doenças parasitárias, a isosporose (Isospora suis) e a criptosporidiose (Criptosporidium sp) são as de maior prevalência. Atualmente, com o desenvolvimento de técnicas de diagnóstico mais sensíveis e específicas, particularmente os métodos moleculares, um número cada vez maior de episódios de diarréia têm sido atribuído à etiologia viral.

Vários gêneros de vírus, classificados em diferentes famílias, são responsáveis por infecções que ocasionam diarréia em leitões. Entre eles alguns ocorrem como menor freqüência como os calicivírus, astrovírus, adenovírus, enterovírus e reovírus. Porém, um gênero da família Reoviridae, o rotavírus, é considerado a principal etiologia viral de diarréias em leitões lactantes e recém-desmamados.

O Rotavírus (RV) é considerado o mais importante agente etiológico de gastroenterites virais de caráter agudo tanto em crianças quanto em animais jovens em todo o mundo. As freqüências de diagnóstico, bem como a alta correlação da identificação dos RV com quadros clínicos de diarréia, demonstram claramente a grande importância deste vírus nas infecções entéricas de leitões em todos os países onde esta espécie é explorada comercialmente.

A rotavirose ocorre em todo o mundo e é uma das causas líderes dos processos de diarréia que comprometem leitões desde a primeira até a sexta e/ou sétima semana de vida, com maior freqüência de ocorrência na terceira e quinta semanas.
Os índices de morbidade e de mortalidade, bem como os prejuízos econômicos, da rotavirose em suínos são variáveis. A freqüência e gravidade da infecção dependem fundamentalmente da: i) estirpe viral infectante; ii) intensidade da infecção; iii) faixa etária dos animais; iv) condições imunológicas; v) fatores ambientais; vi) tipo de manejo zootécnico-sanitário; vii) envolvimento de outros enteropatógenos.
Em todos os países onde a suinocultura é explorada de forma intensiva, o rotavírus suíno é incriminado como um dos mais importantes agentes infecciosos, causadores de diarréias, que ocorrem nos períodos de pré e pós-desmame.

Três importantes características virais são responsáveis pela perpetuação do rotavírus nas granjas de suínos. A primeira é a grande resistência da partícula viral no meio ambiente e à ação de produtos químicos, como os desinfetantes. A segunda é a grande quantidade de partículas virais eliminadas nas fezes de leitões com diarréia, que pode chegar a 1 trilhão de partículas por grama de fezes, fazendo com que a sua erradicação, ou mesmo a redução da quantidade de partículas virais no meio ambiente, seja muito difícil. A terceira é a presença de animais portadores assintomáticos do vírus, como as matrizes, que devido ao estresse do período do peri-parto, eliminam o vírus pelas fezes, constituindo-se assim em fonte de infecção para os leitões.

O rotavírus replica-se nos enterócitos situados no ápice até a porção intermediária das vilosidades intestinais. O término do ciclo de replicação viral é acompanhado por lise celular que ocasiona encurtamento e fusão das vilosidades intestinais além de uma intensa reação inflamatória. As células alvo dos rotavírus, principalmente aquelas localizadas nas porções inicial e intermediária do jejuno, são responsáveis por importantes funções fisiológicas como a absorção de água, nutrientes e eletrólitos, bem como a secreção de enzimas como a lactase, fundamental para a quebra da lactose presente no leite em monossacarídeos passíveis de serem absorvidos pelas células da mucosa intestinal.

Com a lise celular, tanto o processo de digestão quanto de absorção são comprometidos, culminando com um quadro clínico de diarréia que tem como principais conseqüências a desidratação, o desequilíbrio eletrolítico e a acidose metabólica. Na dependência da intensidade, estes distúrbios fisiológicos podem ser responsáveis pelo fraco desempenho do leitão e até pela sua morte.

Com o objetivo de identificar os principais agentes etiológicos envolvidos nos episódios de diarréia do pré e do pós-desmame dos leitões FITZGERALD et al. (1988) realizaram um amplo estudo que avaliou a presença de cinco importantes enteropatógenos. O rotavírus, tanto em infecções singulares quanto múltiplas, em associação principalmente com a E. coli, foi o agente etiológico mais freqüentemente diagnosticado (Tabelas 1 e 2).

No Brasil, SAN JUAN et al. (1986), demonstraram o caráter endêmico da rotavirose suína na região leste do Estado de São Paulo onde o RVS foi identificado em 84% de 19 propriedades rurais estudadas. Também no Estado de São Paulo, GATTI et al. (1989) e BITTENCOURT & RÁCZ (1992), identificaram em amostras de fezes de leitões, uma freqüência de positividade para RVS de 84 e 31%, respectivamente.

Em um estudo realizado em granjas de suínos nos Estados de Santa Catarina, Paraná, São Paulo e Minas Gerais, ALFIERI et al. (1991) demonstraram a ampla distribuição da rotavirose suína nestes quatro Estados da Federação. Neste estudo o rotavírus foi detectado com maior freqüência em animais com três e cinco semanas de idade e o percentual de diagnóstico positivo para o rotavírus encontrado em fezes de leitões com diarréia líquida e também em fezes pastosas foi estatisticamente superior ao encontrado em fezes normais (Tabelas 3 e 4)
Um levantamento epidemiológico, de caráter longitudinal, realizado no período de 18 meses em uma granja com 200 matrizes em regime de ciclo completo localizada na região sudoeste do Estado do Paraná, avaliou a presença de diarréia na maternidade e creche e o diagnóstico de rotavírus suíno.

O maior percentual de positividade ocorreu em animais com três (31,7%), quatro (48.4%) e cinco (40,8%) semanas de idade. O rotavírus suíno esteve presente na granja, determinando infecções em leitões, ao longo dos 18 meses do experimento. Os resultados demonstraram ainda que não houve uma estação do ano (primavera, verão, outono e inverno) onde pudesse ser constatada uma maior prevalência da rotavirose suína.

Nesse estudo ficou ainda evidenciada a maior susceptibilidade de leitegadas de marrãs à infecção precoce pelo rotavírus suíno. Em três lotes de fêmeas, com predomínio de primíparas, a taxa de infecção das leitegadas já na primeira semana de idade atingiu o percentual de 59,5% (Tabela 5) (ALFIERI et al., 1999).

Estes estudos demonstram que o rotavírus suíno esta amplamente disseminado nos rebanhos das principais regiões produtoras de suínos do Brasil e que sua presença está relacionada a ocorrência de diarréia na maternidade e na creche.
Com o objetivo de redução dos episódios de diarréia em leitões, medidas de controle e profilaxia da rotavirose devem ser adotadas e constantemente monitoradas.

Limpeza e desinfecção rigorosas das instalações, bem como a adoção de práticas imunoprofiláticas, como a vacinação das matrizes de três a duas semanas antes do parto, são as duas principais alternativas para a redução dos episódios de diarréia na maternidade e creche. A elaboração de trabalhos envolvendo os aspectos epidemiológicos antigênicos e moleculares dos rotavírus que ocasionam diarréia em leitões deve ser incrementada com o objetivo principal de fornecer subsídios para a implantação de programas profiláticos eficazes

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