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quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Primeira formiga pode ter sido ‘brasileira’, diz pesquisador


Dados sugerem origem sul-americana, mas restam dúvidas.
Cientista do Brasil preferiu não descrever ‘formiga de Marte’.

Reinaldo José Lopes
Enviado especial a Salvador
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O pesquisador alemão Christian Rabeling, que hoje trabalha na Universidade do Texas (EUA), deu um drible definitivo no azar nesta semana. Depois de encontrar – e perder – exemplares da espécie de formiga mais primitiva do mundo perto de Manaus, ele e seus colegas Jeremy Brown e Manfred Verhaagh finalmente acharam outro espécime e publicaram a descrição científica do estranho bicho, batizado de Martialis heureka, ou “a formiga de Marte”, na prestigiosa revista especializada “PNAS”. O animal pertence a uma categoria à parte, sem parentesco próximo com nenhuma outra formiga, e pode lançar nova luz sobre a origem das dezenas de milhares de espécies do grupo.




O pesquisador Christian Rabelling (à dir.) com seu colega Manfred Verhaagh (Foto: Arquivo pessoal)


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Americanos acham ‘formiga de Marte’ perto de Manaus
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Em entrevista ao G1, Rabeling, que viveu três anos no Brasil, conta que a nova espécie apóia a idéia de que o ancestral de todas as formigas de hoje teria vivido na América do Sul, embora novos dados ainda possam mudar esse quadro. Ele também explica por que um especialista brasileiro preferiu não participar diretamente da descrição da espécie. Confira a entrevista abaixo.

G1 – O sr. acha que a Martialis heureka é naturalmente muito rara ou apenas é muito discreta em seu ambiente? É possível afirmar alguma coisa sobre sua vida social? Ela provavelmente tem castas de operárias e rainhas, como as demais formigas?


Christian Rabeling – Eu acho que ela é tanto muito rara quanto muito críptica [difícil de ser percebida]. Em centenas de amostras de solo, nós achamos apenas dois indivíduos, que acabaram sendo destruídos, e depois disso passei quatro meses de joelhos estudando formigas na floresta para conseguir encontrar uma única operária! Acho que isso é uma boa indicação de que a espécie realmente é rara, e não apenas críptica.
Achamos que o espécime que temos é uma operária porque ela não possui a morfologia típica de rainhas. Também acreditamos que as rainhas existem, só não as achamos ainda.


O inusitado bichinho de perfil (Foto: C. Rabeling e M. Verhaagh/PNAS)
G1 – Como o sr. vê a possibilidade de uma origem “brasileira” para as formigas durante a Era dos Dinossauros? E podemos esperar a descoberta de espécies ainda mais primitivas na Amazônia?
Rabeling – As evidências neste momento sugerem que as formigas se originaram na América do Sul. Mas essa inferência não é tão forte. A segunda linhagem mais antiga de formigas, a das lepinilíneas, é da África e da Ásia. Se a próxima linhagem basal [primitiva] for achada na África, por exemplo, a origem das formigas poderia voltar para o Velho Mundo.
Acho improvável que encontremos espécies ainda mais primitivas, mas, em geral, achar novas espécies em amostras de solo é o esperado, porque é um ambiente pouco estudado. Entre essas novas espécies podem haver outras que sejam importantes para entender a evolução das formigas.

G1 – Como o sr. aprendeu português?
Rabeling – Participei de um programa de intercâmbio entre a Universidade de Tübingen, na Alemanha, e a USP de Ribeirão Preto e de São Paulo em 2000 e 2001. Depois disso, trabalhei na Embrapa como estagiário e em 2003, durante o meu mestrado. Juntando tudo, passei cerca de três anos da minha vida no Brasil, e gosto muito do país.

Reconstrução mostra como seria o inseto em seu habitat natural (Foto: Barrett A. Klein/PNAS)
G1 – Muita gente estranhou o fato de que nenhum cientista brasileiro esteve diretamente envolvido na descrição da espécie, principalmente porque o único exemplar conhecido está preservado no Museu de Zoologia da USP. Por que a descrição foi feita dessa maneira?
Rabeling - Manfred Verhaagh [co-autor do estudo] e Marcos Garcia [da Embrapa] colaboram há muito tempo e já tinham discutido essa questão. A situação é a seguinte: o Dr. Garcia é um especialista em ecologia e ecotoxicologia e não se considera um especialista em taxonomia de formigas, ou seja, na descrição de novas espécies. Por isso, ele preferiu não assinar essa publicação em particular. Mas já publicamos outros estudos juntos e estamos trabalhando em dois outros manuscritos sobre ecologia de solos.

Além disso, é importante lembrar que a colaboração científica entre Alemanha e Brasil é muito bem regulamentada. Ambos os lados concordam que o holótipo [o espécime-padrão] de uma nova espécie deve ficar depositado no país de origem: o Brasil, no caso. Portanto, depositamos todas as novas espécies, e não apenas a Martialis, no Museu de Zoologia da USP.

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