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segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Entenda o controle biológico de ácaros

Ácaros são organismos que pertencem ao mesmo grupo dos insetos, tecnicamente conhecido como Arthropoda. Têm entretanto grandes diferenças em relação aos insetos. Por exemplo, apresentam geralmente quatro pares de pernas, não apresentam cabeça e não voam. Os insetos, por outro lado, apresentam três pares de pernas, apresentam cabeça bem desenvolvida e voam muito bem.

Existem ácaros por toda parte, e nós estamos diariamente em contato com eles, ainda que frequentemente sem perceber. Eles são geralmente muito pequenos, e muitos são de cor clara, o que dificulta sua visualização. Os ácaros que mais amedrontam as pessoas em geral são aqueles encontrados dentro de nossas residências, entre as fibras do tapete, carpete, cortina, roupa de cama, embaixo da cama, etc. Muitas pessoas sofrem bastante com a presença destes, devido a problemas de alergias respiratórias por eles causados.



Os agricultores conhecem muito bem, entretanto, um outro tipo de ácaros que lhes causam muita preocupação. Estes são ácaros que se alimentam de plantas, frequentemente reduzindo significativamente a produtividade de diversas culturas. São os ácaros praga, cujos representantes principais pertencem às famílias Tetranychidae, Eriophyidae, Tenuipalpidae e Tarsonemidae.



Diversas espécies importantes podem ser citadas dentro de cada uma desta famílias. Uma é o ácaro rajado (Tetranychus urticae, família Tetranychidae), que ataca mais de uma centena de espécies vegetais importantes, dentre as quais algodão, feijão, mamão, soja, tomate, etc. Deixam as folhas atacadas amareladas e cobertas de teia que eles produzem. O ácaro da ferrugem do tomateiro (Aculops lycopersici, família Eriophyidae) ataca pouquíssimas plantas da família das solanáceas, sendo mais conhecido por atacar o tomateiro, cultura à qual causa enormes prejuízos em várias partes do país, especialmente nas regiões mais secas do Nordeste. As folhas atacadas ficam primeiro escurecidas e brilhantes, depois secam e caem. O ácaro da leprose dos citros (Breripalpus phoenicis, família Tenuipalpidae) constitui-se na principal praga dos citros no estado de São Paulo, mas ataca também diversas outras culturas importantes em todo o Brasil. Atacam folhas, ramos e frutos, mas seu ataque é mais nítido nos frutos, que ficam com manchas marrons, arredondadas, e caem prematuramente. O ácaro branco do algodão (Polyphagotarsonemus latus, família Tarsonemidae) é um dos menores ácaros que causam danos às plantas cultivadas, sendo encontrado principalmente nas folhas mais jovens de algodão, mamão, feijão, etc. Apesar de seu tamanho reduzido, causa grandes danos, exatamente por atacar as regiões das plantas que ainda estão em crescimento, fazendo com que numa fase posterior as folhas apresentem-se deformadas.



Diversas outras espécies de ácaros praga poderiam ser citadas em cada uma daquelas famílias, causando maiores ou menores danos de acordo com vários fatores, como condições climáticas reinantes a cada ano, variedade da planta cultivada, sistema de irrigação empregado, tipos de pesticidas utilizados para o controle de outras pragas associadas aos ácaros, época de plantio, etc.



Controle de ácaros



Para evitar os danos causados por estes ácaros, os agricultores geralmente utilizam produtos químicos, muitos dos quais são considerados eficientes por reduzir a população dos ácaros praga logo após sua aplicação. A despeito dos efeitos colaterais indesejáveis de muitos destes produtos, no atual sistema de cultivo de muitas culturas, o uso destes produtos representa a única forma viável de permitir a redução de certos ácaros praga. A redução do uso de pesticidas, nestes casos, só é viável mediante a adoção de novos sistemas de cultivos, que favoreçam o desenvolvimento equilibrado da cultura e desfavoreçam o desenvolvimento dos ácaros praga.



Em diversas situações, entretanto, métodos alternativos de controle existem e vêm sendo utilizados para a redução de população de diversos ácaros. Um destes métodos se refere ao uso de inimigos naturais, geralmente criados em larga escala sob condições controladas e liberados nos campos onde a praga está presente. Estas liberações podem ser temporárias, até que o inimigo natural (geralmente exótico à região) se estabeleça no campo e possa controlar a praga indefinidamente. Em outros casos, as liberações têm que ser feitas periodicamente, na forma de um verdadeiro acaricida biológico.



Existem hoje centenas de laboratórios, especialmente na América do Norte e Europa, que produzem estes inimigos naturais e os vendem aos agricultores. As espécies mais largamente comercializadas hoje Phytoseiulus persimilis e Neoseiulus californicus, para o controle de ácaros pragas (especificamente para o controle do ácaros rajado). Estes inimigos naturais são ácaros predadores que pertencem à família Phytoseiidae, sendo também conhecidos como “fitoseídeos”. Além destes, outros ácaros fitoseídeos são utilizados para o controle de tripes, em casa-de-vegetação: Neoseiulus cucumeris, Neoseiulus barkeri e Iphiseius degenerans. Outra espécie de ácaro predador pertencente à família Laelapidae tem sido mais recentemente utilizado comercialmente para o controle de larvas de moscas da família Sciaridae, pragas sérias no solo de casas-de-vegetação na Europa; trata-se do ácaro conhecido cientificamente como Hypoaspis spp..



Pesquisadores europeus tem nos informado que estes predadores são cada vez mais utilizados em casas-de-vegetação na Europa para o controle de ácaros pragas, especialmente devido aos consideráveis problemas da resistência de pragas aos acaricidas hoje registrados. Na cultura do moranguinho também se faz o uso frequente de ácaros predadores para o controle do ácaro rajado, tanto na Europa como nos Estados Unidos. Uma outra possibilidade é fazer uso dos inimigos naturais que já estão presentes no ambiente, promovendo sua ação através da adoção de práticas de cultivo que permitam o maior desenvolvimento e atividade destes inimigos naturais. Muitos casos bem registrados existem com relação a esta estratégia de controle biológico, que se refere ao uso de ácaros predadores que apenas necessitam de uma certa “colaboração” do homem para que possam desempenhar seu papel de controlador de ácaros praga. O que na verdade acontece é que, muitas vezes, um predador potencialmente eficiente presente no campo é desfavorecido pelas práticas culturais em uso, como por exemplo pela aplicação de pesticidas não-seletivos, os quais eliminam a população deste predador quando são empregados para o controle de pragas.



Em geral, a “ajudazinha” necessária corresponde à redução do volume de pesticidas utilizado no campo, através da determinação dos níveis máximos de ácaros que uma certa cultura pode tolerar ou à utilização de pesticidas mais específicos, que matam as pragas mas não afetam os inimigos naturais. A isto é que normalmente se chama de “manejo integrado de pragas”.



Importando ácaros



Um outro tipo de controle biológico de ácaros praga em plantas é feito com o uso de ácaros predadores que são levados de um país a outro, normalmente para o controle de uma espécie de praga que tenha sido introduzida. Um exemplo desta estratégia de controle se refere ao controle biológico do ácaro verde da mandioca (Mononychellus tanajoa) na África, através da introdução de seus predadores coletados no Brasil e em outros países sul-americanos ao longo de 17 anos. O estabelecimento bem sucedido daqueles predadores em cerca de 13 países africanos tem resultados em uma considerável economia para os agricultores, que agora cresce ano a ano, com a ação permanente destes predadores, sem mais a necessidade da ação do homem.



Na prática, o que vem sendo feito no Brasil neste sentido? Muita coisa, mas ainda não o suficiente. O Brasil dispõe hoje de um bom número de profissionais ligados à área de controle biológico de ácaros, mas considerando o tamanho do território nacional, este número deveria ser maior.



Os estudos básicos já estão sendo conduzidos há algum tempo, de forma a nos indicar quais das espécies de inimigos naturais que ocorrem no Brasil apresentam maior potencial de uso. Isto exige anos de estudos, pessoal e recursos, mas o mais importante é a sensibilização das instituições pela importância do assunto.



Empresas interessadas



Pouco a pouco se verifica uma evolução positiva, como o envolvimento do setor privado nestas atividades, seja através de uma maior demanda junto às instituições públicas por estudos nesta área, seja pelo financiamento parcial destas atividades, ou, em outro extremo, pelo oferecimento de técnicas e produtos aos agricultores. Quanto ao envolvimento das instituições públicas, como os recursos são limitados, tenderão a ser mais beneficiados os setores que apresentarem maiores demandas. Procurando antecipar o acontecimento das ações, algumas empresas têm se proposto a financiar a realização dos trabalhos que as coloque na vanguarda do uso do controle biológico, seja devido a motivos econômicos, pela falta de opção, ou por uma opção consciente de se promover o uso de métodos mais naturais de controle. No “outro final da linha”, começam a surgir no Brasil pequenas empresas interessadas em ocupar um espaço ainda aberto, como produtores de inimigos naturais para comercialização, ou oferecendo consultoria na área de controle biológico de ácaros, tanto nos estados do Sul como do Sudeste do país.



O futuro parece promissor, principalmente se levarmos em conta que a cada dia cresce o tamanho da população interessada em consumir produtos em que o uso de agrotóxicos seja ausente ou reduzido a um mínimo. Grandes redes de supermercados já oferecem aos consumidores esta opção, tendo estantes separadas para este tipo de produtos. A disponibilização corrente destes produtos no mercado será significativamente influenciada pela implantação deste método alternativo de controle, através ação dos órgãos públicos de pesquisa e empresas de consultoria.



Gilberto J. de Moraes
ESALQ / USP



* Este artigo foi publicado na edição número 08 da revista Cultivar Grandes Culturas, de setembro de 1999.

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