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domingo, 1 de fevereiro de 2009

Húmus de minhoca ganha espaço no Vale do Paraíba


Em Viçosa, agricultores começam a recorrer ao insumo orgânico para alavancar produção

Gazetaweb - reportagem de Bruno Soriano


Produtor rural, José Celso fez palestra, em Viçosa, a agricultores e representantes do Sebrae, sobre vantagens do húmus de minhoca
O mercado mundial dos orgânicos movimentou, em 2006, US$ 40 bilhões. União Européia e Estados Unidos são os maiores consumidores de produtos orgânicos do mundo, respondendo por mais de 90% do consumo global. Já o Brasil exporta 70% de sua produção anual de orgânicos, em 932 mil hectares de áreas certificadas.

Não há previsão de avanço, há curto prazo, dos cultivos orgânicos no país. A médio prazo, eles poderão crescer caso venham a ser beneficiados por uma melhor correlação de preços com a agricultura tradicional, por um incremento de ações oficiais em prol de modelos mais sustentáveis, e pela incorporação de novos produtores, seduzidos pela ampliação do mercado consumidor.


Estercos de boi, galinha e de minhoca foram expostos durante visitação
Fato é que o Brasil já importa 70% dos fertilizantes químicos usados em suas lavouras tradicionais, quando, na década de 90, este percentual não chegava a 35%, como lembra Rogério Dias, secretário-executivo da Câmara Setorial da Cadeia Produtiva da Agricultura Orgânica e coordenador de Agroecologia do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.

Contudo, o Governo federal quer mudar esta realidade. O Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) vai investir R$ 8 milhões na pesquisa de técnicas e fontes alternativas de fertilizantes.

E uma delas é o húmus de minhoca, uma novidade que promete ganhar espaço em Alagoas. Na última terça-feira, 27, uma equipe do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) esteve no povoado Bananal, em Viçosa – Zona da Mata de Alagoas –, acompanhada de produtores rurais dos municípios de Arapiraca e Santana do Ipanema para conhecer uma cultura ecologicamente correta, mas que ainda esbarra na falta de informação.


Processo de armazenamento do esterco bovino, alimento das minhocas
Em Bananal, o produtor José Vieira Passos resolveu apostar em um minhocário, apenas por hobby, há seis anos, como forma de substituir o esterco de boi ou de galinha por um insumo orgânico mais nutritivo à plantação e menos noviço ao solo. Passado o tempo, José Celso, como é mais conhecido, decidiu comercializar o húmus do animal hermafrodita e que não resiste à luz solar, necessitando viver em um local úmido e à temperatura ambiente.

“Mas ainda esbarramos no preconceito. Hoje, nossos maiores clientes são residenciais cujos moradores já se preocupam com um jardim ecologicamente correto e com um produto natural, sem agrotóxico, já que também há a possibilidade de se investir em hortas orgânicas”, revela o produtor rural, ressaltando que os resultados proporcionados pelo esterco de minhoca surpreendem. “O de boi, por exemplo, é mais imediato. Em compensação, quem tem jardim em casa e cria cachorro não está livre de um carrapato, por exemplo”, destaca.

Como funciona


Esterco é curtido por cerca de 45 dias, para então ser levado aos tanques
O processo de transformação das fezes da minhoca em adubo orgânico é considerado simples. O esterco de boi, o alimento da minhoca, é curtido por 45 dias, período em que as bactérias são exterminadas. O húmus de minhoca, explica José Celso, contém uma infinidade de elementos vivos capaz de criar anticorpos, a fim de que, futuramente, não seja necessária a utilização de qualquer produto químico.

“Temos entre dois e três milhões de minhocas. Por ser um animal hermafrodita, ela dobra sua população em cerca de 60 dias, comendo, diariamente, uma quantidade de alimento que equivale a seu peso”, revela o produtor, lembrando a segunda fase do ciclo, onde as minhocas são armazenadas e alimentadas em tanques.


Minhocário contém cerca de três milhões de minhocas; população dobra em até 60 dias
Na fase seguinte, o húmus da minhoca é peneirado e, posteriormente, na quarta e última fase, ensacado. “A peneira também tem como objetivo evitar que o produto final não seja vendido com alguma ova, pois, com a umidade do saco, ela poderá se transformar numa nova minhoca. Como ela não resiste à luz solar, a minhoca acaba morrendo, e o cheiro dela, quando sem vida, é desagradável. Por isso, todo o cuidado nesta fase”, explica José Celso, garantindo que ‘nada se perde’. “O que não passa na peneira nós aproveitamos em outras culturas”, assegura.

AL: 3º maior produtor de inhame

No povoado, o inhame também já é cultivado com húmus de minhoca. Alagoas é o terceiro maior produtor de inhame do país, atrás apenas da Paraíba e Pernambuco, respectivamente. “A produtividade média do inhame em Alagoas é de 11 toneladas por hectare”, explica o gestor do APL (Arranjo Produtivo Local) do Inhame no Vale do Paraíba, Walter Assunção, que também participou da visita ao minhocário.


Peneira tem como objetivo evitar que impurezas componham o produto final
“Estou fazendo uma experiência com o inhame em apenas um hectare. Mas já percebi que dará certo, porque já tripliquei minha produção com o húmus de minhoca. Além disso, ao invés de se gastar 30 toneladas de esterco bovino, com o de minhoca, gasto apenas cinco toneladas”, compara José Celso, que acredita no fortalecimento da cultura do inhame na região, tendo à frente o insumo orgânico. “Se o APL do inhame der certo, vamos diminuir bastante o êxodo rural no Vale do Paraíba, pois, cada tonelada do produto gera três empregos”, reforça o produtor.

Bom negócio


A última fase do processo, com o húmus já ensacado para a venda
De acordo com a gerente de agronegócio do SEBRAE, o objetivo da visita técnica a diversas regiões do estado é auxiliar a troca de informações entre produtores rurais, acerca de novas tecnologias capazes de alavancar e qualificar a produção. “Tudo isso é muito importante para a sustentabilidade da agricultura familiar, além do que estamos diante de uma prática ecologicamente correta”, comenta Fátima Santos, sobre a visita ao povoado Bananal.

“Queremos, no Vale do Paraíba, ampliar o volume de produtores de inhame, contando com o apoio da prefeitura local, além da contrapartida dos bancos do Brasil e do Nordeste, nossos parceiros”, emenda a gerente, referindo-se ao húmus de minhoca como um bom negócio.


José Celso faz experiência com o húmus de minhoca na produção de inhame e diz estar satisfeito
“A falta de informação, de fato, ainda é um obstáculo. Mas está provado que está cultura é um bom negócio. Basta observarmos o outro elo da cadeia, em que se pode fomentar, por exemplo, a horticultura por meio deste insumo orgânico, já que o húmus de minhoca também pode ser usado como uma espécie de antibiótico à planta”, reforça a representante do Sebrae.

Para a engenheira agrônoma Liduina Alencar – que também participou da visita –, ‘este é o momento da agroecologia’. “O húmus da minhoca repõe as forças de que a planta necessita. Esta é apenas uma das vantagens de um excelente produto, capaz de desenvolver as propriedades do solo e um alimento mais saudável, não desfalcado de suas reservas nutritivas”.


Em apenas um hectar de terra, agricultor diz já triplicar sua produção com o insumo orgânico

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